sábado, 2 de junho de 2012

Análise da Crônica Rita- Rubem Braga


Rita
        No meio da noite despertei sonhando com minha filha Rita. Eu a via nitidamente, na graça de seus cinco anos.
        Seus cabelos castanhos- a fita azul- o nariz reto, correto, os olhos de água, o riso fino, engraçado, brusco...
        Depois um instante de seriedade; minha filha Rita encarando a vida sem medo, mas séria, com dignidade.
        Rita ouvindo música, vendo campos, mares, montanhas; ouvindo de seu pai o pouco, o nada que ele sabe das coisas, mas pegando dele seu jeito de amar- sério, quieto, devagar.
        Eu lhe traria cajus amarelos e vermelhos, seus olhos brilhariam de prazer. Eu lhe ensinaria a palavra cica, e também a amar os bichos tristes, a anta e a pequena cutia; e o córrego; e a nuvem tangida pela viração.
        Minha filha Rita em meu sonho me sorria- com pena deste seu pai, que nunca a teve.
Janeiro, 1995
In BRAGA, Rubem. 200 Crônicas escolhidas- As melhores de Rubem Braga.



    Rubem Braga, considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, ES, a 12 de janeiro de 1913.

    Segundo o crítico Afrânio Coutinho, a marca registrada dos textos de Rubem Braga é a "crônica poética, na qual alia um estilo próprio a um intenso lirismo, provocado pelos acontecimentos cotidianos, pelas paisagens, pelos estados de alma, pelas pessoas, pela natureza.”.

    A crônica de Rubem Braga fala sobre um pai que deseja ter uma filha a partir de um sonho que teve.

   Temos em mãos uma crônica pequena, porém, ampla em conteúdo. Como é lhe é peculiar, textos desse gênero possui narração curta, produzida essencialmente para ser veiculada na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas páginas de um jornal. Possui assim uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o leem.

    O Onírico se faz presente em toda crônica, pois, é a partir dele que o autor narra os fatos comentando como seria a vida do protagonista se o mesmo tivesse uma filha.

    A crônica fala de um pai que ao ter um sonho se imagina como seria ter uma filha e como poderia ensiná-la as coisas que todo pai o faz. Esta ideia do sonho se faz presente na crônica a partir deste trecho: “No meio da noite despertei sonhando com minha filha Rita. Eu a via nitidamente, na graça de seus cinco anos” e neste segundo trecho: “ Minha filha em meu sonho me sorria- com pena deste seu pai, que nunca a teve”.

    Podemos perceber também que Rubem Braga quebrou a tradição de só as mulheres poderem sonhar em ter filhos. Neste conto, observa-se um personagem que quer ter um filho sendo este personagem um homem e não uma mulher como é comum lermos. A Narrativa é simples, fazendo com que o leitor compreenda claramente o que lê.

    Esta crônica nos deixa a reflexão de que o sonho vira pesadelo quando nos despertamos dele ao acordar.

Por: Jhonata Teixeirão

2 comentários:

  1. Adoro esta cronica.Me identifico com ela.

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  2. Relendo "Rita" tive a impressão que Rubem quase teve esse filha, sei lá, que Rita seria uma filha que a esposa de Braga havia perdido. Uma crônica que parece bonitinha, porém profunda!

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