sábado, 22 de setembro de 2012

Análise do Poema "Lembrança de Morrer"- Álvares de Azevedo


Análise do Poema “Lembrança de Morrer”

Lembrança de Morrer

Álvares de Azevedo

"Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
... Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade... é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade... é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,
Pouco - bem poucos... e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoidecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.

Sombras do vale, noites da montanha
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!

Mas quando preludia ave d’aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua pratear-me a lousa! "

 

    No poema “Lembrança de Morrer” o eu lírico expõe todas as características que se fazem presentes no segundo período do romantismo. O próprio título já nos da uma ideia do sentimento de melancolia e o apreço pela morte, tal como a fuga do real.

    Neste trecho temos a noção de como o eu lírico está desgostoso com a vida e o quanto a levava com tédio e vivia a cada dia não como se fosse o último, mas sim, com cansaço e querendo que este logo acabasse.

“[...] Eu deixo a vida como deixa o tédio

Do deserto, o poento caminheiro

-Como as horas de um longo pesadelo

Que se desfaz ao dobre de um sineiro; [...] “.

    Há um lamento em relação à vida errante, mas dela não se arrepende, porém, sentirá saudades das coisas imaginárias a que viveu, como, a ilusão, a realidade por ele criada, suas noites e o mistério a que sua vida era envolvida. Saudade sentirá dos poucos amigos e dos pais, que por ele sofreram vendo suas dores e desgostos.

Para o poeta do “mal do século” importam suas impressões, seu mundo interior, seu sofrimento, porém, tudo isso dentro de si, no silêncio, na imaginação, onde só padece o corpo e quem ao redor está.


Por: Jhonata Teixeirão

sábado, 8 de setembro de 2012

Arco e Flecha...

Poema Arco e Flecha- Marina Silva


Do arco que empurra a flecha,
Quero a força que a dispara.
Da flecha que penetra o alvo
Quero a mira que o acerta.

Do alvo mirado
Quero o que o faz desejado.
Do desejo que busca o alvo
Quero o amor por razão.

Sendo assim não terei arma,
Só assim não farei a guerra.
E assim fará sentido
Meu passar por esta terra.

Sou o arco, sou a flecha,
Sou todo em metades,
Sou as partes que se mesclam
Nos propósitos e nas vontades.

Sou o arco por primeiro,
Sou a flecha por segundo,
Sou a flecha por primeiro,
Sou o arco por segundo.

Buscai o melhor de mim
E terás o melhor de mim.
Darei o melhor de mim
Onde precisar o mundo.